sexta-feira, junho 4

eu tenho,

no fundo, um certo orgulho em ser um pouco exótica.
mesmo que seja só um pouco.
primeiro tem o lance da minha voz que é "diferente" (tipo aguda a nível insuportável).
segundo o meu cabelo que eu teimo em tentar deixar cacheado (ele não é), o que acredito, a maior parte do tempo, que seja bonito. tipo confundir desarrumado com despojado. (mas sou persistente e não faço uma escova há exatos três anos, seis meses e catorze dias - sei porque a ultima foi obrigada pela minha mãe pra minha formatura).*
e, terceiro, o incrível, mirabolante e mais exótico fato de eu ser de Rondônia.
é claro que, pra minha família e em Rôndonia isso não tem absolutamente nada de exótico.
mas, ao que parece, em qualquer estado que não seja do a)norte b)centro-oeste c)Bolívia, você ter nascido em Rôndonia é quase mais esquisito do que ter nascido em Marte.
dessa forma, todos os primeiros diálogos que tive com todas as pessoas que conheci nos últimos seis anos são basicamente a mesma coisa:

- seu sotaque é diferente, você não é daqui, é?
- não, sou de Rondônia.
- nossa! sério?
- sério.
- você tá brincando! Rondônia não existe. (aponta pra mim) Olha só, gente, ela é de Rondônia.
- existe sim. eu nasci lá.
- nooooossa. mas o Acre não existe.
- eu conheço várias pessoas do Acre.
- uaaaauuu, que sinistro!


e por aí vai.
eu dou um sorrisinho amarelo e me preparo para julgar o nível de inteligência/conhecimentos gerais de um indivíduo a partir das próximas perguntas que ele me fizer: se a)ele me pergungar se eu morava em ocas, é um babaca b) se me perguntar se conheço algum índio, está no caminho certo para ser babaca e c)perguntar simplesmente como é lá, vai parecer alguém interessado e que sabe que lá não é o cenário do Livro da Selva - até porque, não tem nenhum tigre dando sopa na Floresta Amazônica, que eu saiba.
mas isso não me incomoda. às vezes eu gosto de assustar as pessoas informando-lhes quanto custa uma passagem de avião pra lá ou dizendo-lhes que conheci energia elétrica com catorze anos (nossa, sou tão engraçada). e que, até hoje, não tem McDonalds lá (já tem?) - por que, é claro, essa parece ser a convenção universal para se medir o nível de civilização de um lugar (alô, né).

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*putaquepariu já faz todo esse tempo que me formei no ensino médio? como sou velha.