terça-feira, setembro 29

29.09.09

já é quase outubro, mas Setembro ainda se carrega de força.
ele não vai embora tão cedo: fica pendurado no meu peito até mais ou menos a metade do próximo mês - ou não me deixa nunca.
todas as mudanças que essa época traz, as sensações, tudo isso, querida, são suas lembranças. não foi você que nasceu em Setembro - foi ele que nasceu e passou-se quase todo se preparando pra você. a sua força não poderia vir da dúvida de agosto, muito menos da matemática de outubro. não. o ar tinha que se renovar com a sua voz, as flores, que se pintarem para os seus olhos, o vento que se amornar para não competir com a rebeldia dos seus cabelos, as sombras tinham que se tornar exatas para imitarem seus gestos sem dúvida. E, por último, o sol tinha que mudar de lugar para assistir seu sorriso.
daí, simplesmente por acaso, Setembro trouxe a primavera - apenas, tenho certeza, porque esperava você. e ela nasceu doce na ironia de lhe fazer puro contraste.

eu que, minha querida, morei muito tempo nas suas certezas, nas nossas risadas, hoje coleciono as primaveras. e me guardo em Setembro - Setembro que é todo você.

domingo, setembro 27

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se você acha que está sob controle, então não está indo depressa o bastante.

quinta-feira, setembro 24

então

eu estava o tempo todo cercada de pessoas maravilhosas e, por algum tempo, ignorei completamente esse fato.
acho que minha sorte finalmente começou a sorrir - ela tem muitos nomes e eu estou começando a adorar todos eles.





- já tenho televisão em casa. desde o dia em que chegou, ainda não lembramos de ligar a belezinha. ufa.

terça-feira, setembro 22

²

eu gosto dos lírios amarelos na minha pequena sala amarela. o perfume que eles fazem inundar na casa é a marca da minha mãe por todos os lados. uma presença doce e amarela, como as risadas e o sorriso dela.

¹

existem pessoas que conseguem ver beleza nos cães sem dono e nas flores sem perfume.
são o tipo que eu sempre apreciei mais, talvez por que, no fundo, eu achasse que elas poderiam ver alguma beleza em mim também. alguma coisa que eu não conseguisse ver.

segunda-feira, setembro 21

minha mãe comprou lírios amarelos pra decorar nossa pequena casa amarela.

então

eu olhei nos seus olhos e não me vi mais dentro deles. e foi como se, sem existir no seu olhar, eu não existisse mais em mim mesma.

domingo, setembro 20

não.

eu não me meço.
se eu pudesse me medir talvez não passasse por todas essas coisas que se baseiam em basicamente não ter noção do meu próprio tamanho.
é estranho se sentir tão pequena e não caber em lugar nenhum.

eu me meço:

hoje sou do tamanho de uma saudade.

domingo, setembro 13

²

o que sinto hoje só seria possível definir num pequeno poema. mas vou me poupar dele. vou me poupar de todas as coisas que eu acreditei e não existem mais. de todas as coisas que eu queria que fossem e não são. de todas as coisas que estavam no lugar errado. (um grande e sábio amigo me disse que primeiro você tem que sacudir a caixa do lego, pra que todas as peças se desencaixem, antes de conseguir montá-lo de novo). e a maria mazoquista-suicida mergulhou bem na fenda negra, no olho do furacão. pra finalmente entender o significado de todas essas coisas.
entendeu, até mesmo, o significado do pequeno poema que a definiria não precisar estar aqui. eu vou encontrá-lo e, quando o fizer, não precisarei mais dele.

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Eu não venho para nos exaltar, mas para nos enterrar.

- Júlio César. (não meu pai, aquele outro)

quinta-feira, setembro 10

me sinto doente.
é uma sensação esquisita.
doente de tanto vazio - ficou um vácuo e as partículas, os zum-zum-zuns dançam dentro de mim. a chuva entra pelas rachaduras e causa inundação.
a boca está seca. os olhos estão secos. o peito está seco. os braços estão mortos.

segunda-feira, setembro 7

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A lua tem duas noites de idade diz:

Amor é bicho instruído
Olha: o amor pulou o muro
O amor subiu na árvore
em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou.
Daqui estou vendo o sangue
que escorre do corpo andrógino.
Essa ferida, meu bem
às vezes não sara nunca
às vezes sara amanhã.

Drummond
Visse ? Drummond era sabido. Se não acreditar em mim, acredite nele

domingo, setembro 6

hoje eu sei, com a cabeça clara, que preciso mais das respostas do que de você.
mas o tempo vai se encarregar de preencher - ou, no mínimo, me fazer esquecer - tudo o que você deixou de vazio dentro de mim.
por hoje, não importa, eu acabei de enterrar você.



- ontem, o mundo ficou do lado de fora.

sexta-feira, setembro 4

eu me lembrava de ter pedido a bebida, mas naquele momento não conseguia imaginar por quê. parecia existir uma eternidade entre os poucos minutos atrás em que eu tivera vontade de beber alguma coisa - e talvez por isso tivesse pedido - e aquele momento. uma eternidade em que me lembrava de ter vontade de fazer um milhão de outras coisas e agora havia um intervalo onde eu não tinha vontade de fazer mais nada. uma das coisas que me lembrava, estranhamente, de querer fazer era te ter de novo. até poucos minutos atrás conseguia imaginar-me abraçando-o, pedindo-lhe desculpas e, talvez, até o fizesse sorrir. agora não. agora você estava ali, do outro lado da mesa, e o espaço entre nós era muito maior do que toda a eternidade que separava as emoções dentro de mim - senti que nunca mais conseguiria tocá-lo.
então pensei que a bebida ao menos serviria para que eu tivesse alguma coisa para olhar, para colocar as mãos. porque você, do outro lado da mesa, estava distante demais.
quando eu ainda sabia por que queria as coisas, poucos minutos antes, também tinha a segura sensação de saber com exatidão tudo o que não queria. mas você se sentou do outro lado da mesa e falou, com todas as palavras, que não queria mais. e foi mais ou menos aí que todos os quereres e porquês se embaralharam dentro de mim. nada mais tinha resposta, nem começo, nem fim, da mesma forma que o abismo no meio da mesa - tive a sensação de que se esticasse o braço, nunca terminaria de esticá-lo até alcançar o outro lado.
foi por isso que me protegi com a bebida, sem bebê-la. porque quando terminássemos de beber, seria o fim da conversa. e com o fim da conversa seria o fim de todo o resto - o abismo ia sair do centro da mesa e engolir tudo o que havia sobrado. nunca terminei minha bebida, sem saber que o seu copo já estava vazio desde o início.

quarta-feira, setembro 2

Do amor e outros demônios. diz:
Seu nome é Só Maria Clara Tarrafa ?
m. diz:
não não
tem outro nome
mas não gosto dele
gosto mais de tarrafa, que parece com chaleira e madrugada
Deus é o existirmos e isto não ser tudo.
- f. pessoa