terça-feira, julho 6

surpresas - ou não

quando eu ainda era escrava, digo, bolsista da UFBa, minha orientadora requisitou a mim e a outra bolsista que fizéssemos uma coisinha super especial: um favorzinho pro Cônsul da Republica Checa. Diante da boniteza das palavras "cônsul-da-republica-checa", achamos tudo muito legal e resolvemos aceitar.
a nossa missão era organizar uma exposição de arquitetura numa biblioteca.
parecia legal né. mas foi só começarmos pra descobrirmos que não era. e não foi nos designado pela plena confiança que alguém depositava em nós, mas por que ninguém mais teve o menor saco de fazer (como todo o resto que se faz quando se é bolsista).
perdi um final de semana da minha vida (incluindo sexta e segunda feira) pra, depois da inauguração, no dia seguinte, simplesmente pegarem todos os cartazes e encostarem na parede pra dar espaço pras mesas da biblioteca. (quando voltei lá quase chorei com a situação).
taí um final de semana que pensei que nunca teria de volta.
até o dia em que minha ex-orientadora me mandou um email dizendo que o Cônsul havia nos mandado alguma coisa, que ela havia deixado para nós na secretaria da faculdade.
quando eu li 'coisa', pensei imediatamente 'surpresa', que me fez pensar imediatamente em 'presente'. e fiquei feliz da vida, finalmente alguém havia reconhecido meus trabalhos como bolsista.
mas naquela semana eu não pude pegar, nem na seguinte. e finalmente quando fui, a moça me falou que tinha ficado muito tempo lá e ninguém sabia mais onde estava.
imagina minha tristeza. mas ela me prometeu que ia procurar.
passei uma semana lá e nada de encontrar.
hoje, eu estava passando na frente da secretaria e a moça me chamou. oh meu deus, que felicidade, tinham encontrado meu presente! eu fui toda contente, saltitante, cantarolante atrás dela. então ela se vira e me dá um envelope.
poxa, presente no envelope? que decepção.
então pensei, tentando me contentar, ao menos seria um certificado. certificado é legal, vale como horas de atividade extra-curricular (foi extra-curricular, ora, eu não era bolsista pra montar exposição pra ninguém da república checa).
coloquei na bolsa e fui pro estágio.
agora, quando chego em casa e pego o envelope na bolsa, pra colocar na minha pasta de certificados, lembro de abrir pra ler, afinal, quantas horas ele achou que eu mereci de recompensa pelos meus dias de trabalho árduo.
e, tcharã. é uma carta. 'eu, fulano de tal, agradeço pelos trabalhos de fulana.'
ponto final.
fim.
sem nenhuma menção de que eu trabalhei nenhuma horinha. virei nenhuma noite. conquistei nenhuma hérnia levantando suportes pesados. é, meu filho, eu realmente já imaginava que você fosse grato por isso. não precisava se dar ao trabalho de redigir uma carta pra isso.

agradecimento serve pra quê? alguém me diz?

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