sexta-feira, agosto 6

eu até gosto de Rondônia

e viria mais do que uma vez a cada dois anos se:
1)não fosse tão difícil chegar aqui
2)meu pai tivesse todos os pacotes caros da SKY
3)o clima equatorial úmido não fosse tão quente
4)eu não tivesse uma madrasta (brinks)
5)as pessoas não falassem TÃO ERRADO por aqui.

Eu sou nascida em Rondônia e, de certa forma, me orgulho disso. mas é bem difícil ser bombardeada o dia inteiro, sem querer ser muito chata, mas é o dia inteiro MESMO, com "vou ir lá", "pra mim fazer", "vou ponhar pra você". sem preconceitos, algumas das pessoas que eu mais gosto na vida falam assim - embora eu não tenha muita certeza se gostaria mais delas se fizessem mais uso da santa gramática.
Na verdade, dos quesitos acima citados, o que possui 99,6% da culpa de eu quase não me aventurar por essas terras é a dificuldade de chegar.
para começar, eu nem vim de ônibus (aí seriam cinco dias de puro sofrimento. e só pra piorar eu enjôo até andando de carro da pituba até itapuã). eu vim de AVIÃO. e, se você acha que esse recurso facilitou consideravelmente a minha vida, a resposta é não.
basta eu simplesmente alegar que saí de Salvador, Bahia, às 09:30 da manhã e cheguei na cidade de Ji-Paraná, Rondônia, às 23:30 (o que, considerando o fuso-horário, eram 00:30 em Salvador, ou seja, faça os cálculos).
mas não pára por aí. a brincadeira começou com 1:30 de viagem até São Paulo para 4 horas esperando a conexão.
estava tudo legal enquanto eu tomava umas Devassas no bar, até aparecer um senhor que gostou muito de mim e resolveu me contar toda a série de tragédias da vida dele (que não eram poucas, sinto muito dizer) e eu, como uma boa moça, ex filha de jó, candidata a madre teresa de caucutá, fiquei constrangida em deixá-lo falar sozinho e respondia com incessantes uhuns procurando desesperadamente uma saída para a situação. o milagre, veio dos céus, digo, do teto. foi anunciado que meu portão de embarque havia mudado para o 1B e, mesmo faltando 1:40 para o avião chegar, eu corri imediatamente para lá.
Então, de Guarulhos, cerca de 2 horas de viagem, fazendo, é claro, uma escala de 20 minutos em Campo Grande, até Cuiabá para, tcharam, mais belas 4 horas de conexão.
Eu até tinha me julgado muito esperta por levar meu notebook, por motivos alheios, pois teria com o que me divertir na longa espera das conexões. mas foi nesse dia que descobri que o wi-fi dos aeroportos, tcharam, não é de graça. é para assinantes. e eu quase acreditei na bondade humana. mas, quando acessei o site da speedy (que é o único ao qual se tem acesso sem pagar), apareceu um aviso meigo e fofo de que os passageiros tam, para seu maior conforto durante as conexões, têm acesso a duas horas grátis de wi-fi (fica o aviso). mas poxa, que super supimpa. então tá. saí pelo aeroporto de Cuiabá com o notebook (de 16 polegadas, o que não é nada confortável, posso dizer) à procura de um funcionário da tam que me desse a maravilhosa senha para eu ter meu acesso de graça.
mas adivinha: para o meu pânico, não havia NENHUM funcionário da tam no aeroporto inteiro. é. bom o serviço né? todos os guichês estavam fechados e não tinha nenhum homenzinho vermelho dando sopa pelo caminho. e o que me deu um desespero muito maior do que simplesmente não poder usar o wi-fi, foi finalmente perceber que não havia nenhum vôo da tam anunciado para o resto daquele dia. NENHUM.
depois de cerca de cerca de duas horas me controlando para não aparentar desespero algum e sem encontrar nenhuma cara conhecida dos meus vôos anteriores -era como se minha vida fosse um filme médio de suspense e todo o universo da compania aérea só tivesse existido dentro da minha cabeça - até que uma mocinha apareceu atrás do balcão de vendas. eu corri para lá antes que ela pudesse se desmaterializar para o universo paralelo onde a sua empresa estava funcionando naquele dia e, para parecer natural, perguntei primeiro da senha da internet. ela respondeu apenas "ah, aqui não tem isso não. essa promoção só é válida onde o wi-fi é de graça." sério. eu não consegui controlar o longo e irônico "OI?" então ela corrigiu "onde a tam consegue wi-fi de graça". ah, isso era bem óbvio, né. tá, eu ia ficar sem atualizar meu doce orkut. oh deus. mas aí lembrei e, parecendo o mais natural possível, perguntei como quem não quer nada "eu estou aguardando o vôo 5732, para Ji-Paraná, mas não encontro nenhuma previsão de chegada dele." então ela me olhou ocmo se eu fosse uma completa retardada e respondeu "é porque esse é um vôo de outra compania, a Trip."
AH, CERTO. Acontece que eu nunca comprei uma passagem na Trip. E ninguém se preocupou em momento nenhum em me avisar esse pequeno detalhe. senti vontade de matar alguém. mas não fiz isso. voltei pra sala de embarque e fui assistir o Dvd da Viagem de Chihiro só pra fazer de conta que eu estava usando o inacessível wi-fi e as outras pessoas terem raiva de mim. mas acontece que eu sempre choro assistindo esse filme e não foi muito bonito de minha parte fazer isso no meio do aeroporto. mas tudo bem. acho que depois que você já mofou o suficiente pra ficar íntimo das malditas salas de embarque, acaba perdendo um pouco a inibição.
passaram-se longas duas horas até que meu vôo da Trip foi anunciado. Entrei na fila, não sem antes comprar uma revista super legal na banca (em momento algum das quatro horas anteriores havia me ocorrido fazer isso) e entreguei meu ticket já completamente amassado, rasgado e suado pra moça sorridente que falou "vá andando pela faixa azul, o último avião, à direita."
sabe, Cuiabá tem um daqueles aeroportos minúsculos em que você anda pela pista de pouso até o seu avião. uma coisa que, vou confessar, eu adoro fazer. é muito mais legal do que passar por dentro daqueles tubos prateados de ficção científica.
então tá, lá fui eu andando pela faixa azul, vendo os aviões bonitinhos passarem por mim. o primeiro da fila era um boing 747, imponente, bonitão, o segundo, um ligeiramente menor, o terceiro, ainda menor. e menor. menor. menor. aquilo foi me deixando preocupada. por mais vezes que eu já tenha viajado sozinha (e não foram poucas), continuo tendo medo de avião. é sério.
até que eu parei diante de um avião consideravelmente pequeno, e pensei "ai meu deus que medo. vou viajar nisso." aí outra moça simpática apareceu e falou "vamos, senhora, é o próximo."
é. havia outro avião escondido atrás daquele avião pequeno. e eu não pude vê-lo antes por que ele era realmente muito pequeno. e tinha as hélices fora das turbinas, exatamente como aqueles aviões de filmes de guerra que sempre CAEM. e as pessoas estavam se amontoando para embarcar porque a escada única escada era muito pequena, quase como aquelas de playgrounds. e, quando eu fui na direção dele, a porta da frente estava aberta e eu pude ver que todas as malas dos passageiros estavam AMARRADAS EM REDES, exatamente como nos filmes de guerra.
nesse momento eu comecei a chorar. eu juro. nunca senti tanto medo na minha vida quando subi aquela escada de parquinho e entrei no avião e pude, imediatamente, olhando apenas uma vez, contar a quantidade de lugares existentes, por que ele era mesmo muito pequeno.
no momento em que me sentei abri o folheto que estava no assento e descobri que aquele fofo veículo viajava a 400 km/h, quando um avião cormercial NORMAL voa a 950 km/h, ou seja, estava prestes a viajar 1100 km naquele ultra leve e ainda por cima levar, para isso, o dobro do tempo habitual. e daí que eu continuei chorando. e chorei quando o avião decolou (até tentei um "pai nosso" mas o choro não deixou) e chorei mais um pouco enquanto uma senhora do meu lado, com um cheiro consideravelmente ruim, gritava no meu ouvido "o avião que nóis fumo pra barreto era bem mais maior que esse. era filé qui só". e, enquanto não balançávamos, mas chacoalhávamos numa turbulência eu pensava chorando "´dá pra fingir que estou andando de montanha russa".
mas aí eles serviram o jantar e era um monte de comida chique (vinha em pratinhos de cerâmica, igualzinho às barrinhas de cereal das outras companias) talvez pra gente esquecer que podia morrer a qualquer instante. e, de fato, quando eu me acabei na sobremesa, que era tortinha de limão, eu já havia quase me esquecido que estava quase cagando nas calças meia hora antes e até consegui dormir.
mas isso não muda o fato de eu, por muito pouco, não ter beijado o chão quando pisei em terra firme, em Ji-Paraná, finalmente, Rondônia. e jurei que nunca mais faria outra viagem daquela até, é claro, me lembrar, que eu tinha que voltar da alguma forma pra Salvador e, se quisesse ir de ônibus teria de embarcar no dia seguinte pra chegar a tempo.

Mas, tirando isso, eu até gosto de Rondônia. é sério. sempre que venho vagabundo a maior parte do tempo só pra irritar minha madrasta (não sei se funciona, ela é um poço de paciência), pesco com meu pai pra fazer sashimi fresquinho, como o pão de queijo da minha tia, dou uma revivida na minha infância (com muito cuidado para não passar pela pré-adolescência particularmente traumática), vou a festas que NUNCA iria em outro lugar e posso usar minhas botas de cowboy sem que ninguém ache estranho (óbvio que aí não tem a menor graça).
além do que Rondônia tem pupunha, pinhão e Tuchaua, que eu compro de estoque e bebo como se fosse água mineral até, mais ou menos cinco dias depois, meus olhos começarem a tremer incontrolavelmente com a overdose de guaraná. mas, é claro, eu continuo tomando.
- pra quem não sabe o que é Tuchaua, é o melhor refrigerante do universo, (É SIM) somente encontrado na região amazônica e, dizem as más línguas, foi comprado pela Coca Cola pra se impedir de distribuir no resto do país. Se é verdade, eu não sei, mas eu, que nem gosto de refrigerante, garanto logo o meu estoque quando piso nestas terras.

(esse post é um patrocínio de Tuchaua, o guaraná da nossa terra)

2 comentários:

  1. Oh Maria vééi hsuahsuahuahsau li esse post no estágio me CONTROLANDO pra não dá altas gargalhadas, chega chorei de rir hsuhausahusa mt comedia vc descrevndo seu voo huashuahsuhua Vou pra belém em setembro e vou mofar 2h em brasília...detalhe que vou pela Gol¬¬' enfim...saudades!
    =***

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  2. eu ri DEMAIS!
    nossa!! Tuchaua!!!! anos que eu não bebo!!!Oo

    e Eu não esqueci do seu aniversário! eu só não pude falar com vc !!mas... estou aqui te desejando tudo o que possa existir de melhor !!!


    ;;************

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